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NÃO GOSTO DO QUE ESCREVO – Parte II

“Nunca gosto do que escrevo, mas me contento momentaneamente. E é do não gostar que partem novos textos”. Estas palavras, ditas por uma das leitoras da “Parte I” deste artigo, em 2010, certamente, soam como fonte de grande inspiração, por expressarem certo caráter de progressividade ao ato de escrever. Porém, também podem ser capazes de encobrir outras realidades vividas por “pessoas que não conseguem ficar satisfeitas com seus textos”. Desta vez, nada ligado diretamente ao déficit de autoestima, mas a certo caráter perfeccionista, que pode ser uma característica comum (e até útil) adquirida por qualquer indivíduo.
O problema é quando o perfeccionismo na escrita chega a causar angústia e sofrimento a quem, por um motivo ou outro, precisa escrever algo que vai ser lido e avaliado por outras pessoas. Isso pode acontecer com qualquer um de nós, mas nem sempre é possível identificar quando estamos sendo “vítimas” (isso mesmo) da nossa autocrítica, a qual pode até ser muito boa na hora da produção textual, contudo, de maneira sutil, também pode ocasionar em uma situação tão angustiante que todo o “encantamento” após a escrita de um texto acaba sendo perdido em alguns instantes, como se um sentimento de repulsa e descontentamento com o que foi escrito se apoderasse do nosso ser.
É claro que estamos partindo de uma situação um pouco exagerada para tentar explicar este fato que tem se tornado um dilema na vida de muita gente que convive no dia a dia com a necessidade de ter que produzir textos que passarão pelo “crivo” de diversos leitores, alguns ávidos por identificar erros e incoerências cometidos pelos “escritores”.
A grande questão que se apresenta aqui, seja diante de um caso de baixa autoestima ou de perfeccionismo, na hora de produzir um texto, está no fato de que aquilo que está sendo escrito vai ter que ser lido por outras pessoas e, portanto, sofrerá (ou não) uma “crítica”, deixando-nos, às vezes, “com os nervos à flor da pele”.
É uma situação que vai variar desde uma leve sensação de insegurança (o que pode ser encarado como normal), passando por um estado de insatisfação mais agudo, até atingir um nível grave, com visíveis atitudes que já precisam de certa atenção, como vergonha e isolamento, violência e até mesmo mal-estar na saúde física.
Enquanto o problema está apenas no nível da insegurança com relação ao texto, não vejo nada de alarmante, pois é comum isso acontecer em face de quaisquer circunstâncias ocasionais e corriqueiras do dia a dia. E se isto “evoluir” para atitudes como maldizer-se a ponto de duvidar de sua própria capacidade para produzir um texto, ainda assim pode não ser algo grave, a não ser que daí comecem a transparecer ações que indiquem propensão ao isolamento, à violência e/ou alterações na saúde física como tremores, tonturas, vômitos, desmaios, etc.
Talvez, para algumas pessoas, isso tudo pareça um monte de “besteiras”, mas, infelizmente, não é. Realmente, essas coisas acontecem e afligem muita gente mundo afora. Crianças, adolescentes, adultos, todos podem ser vítimas deste “mal”.
Quando me refiro às crianças, sei que não se pode exigir que elas já sejam capazes de expor suas ideias num texto escrito com clareza e profundidade (embora haja aquelas que se sobressaiam às outras). Todavia, há sim casos em que alguém (pais, familiares, responsáveis) pode estar lançando tantas cobranças de “perfeição” sobre uma criança a ponto de deixá-la deprimida quando não consegue corresponder às expectativas dos adultos. Isso, certamente, pode contribuir para atrapalhar a capacidade de expressão escrita do indivíduo desde os seus primeiros passos no mundo da produção textual. O resultado disso pode ser visualizado entre os milhares de estudantes já adolescentes e até adultos que, todos os anos, são submetidos a provas de redação e acabam reprovados.
Um passo decisivo para vencer os “males” do perfeccionismo e/ou quebrar as “correntes” do medo de não conseguir corresponder às expectativas dos “avaliadores” de redações começa quando passamos a nos ver como indivíduos verdadeiramente “livres”, decididos a assumir a nossa “personalidade”, cientes de que cada texto que redigimos não passa de um “pouquinho” do que somos enquanto humanos e do que temos guardado em nossa memória como fruto das experiências que vivenciamos desde que nascemos.
Precisamos, então, nos esforçar para retomarmos as “rédeas” da nossa capacidade de expressão escrita sempre que pressentirmos a aparente pressão “interna” que exige “perfeição” textual das nossas redações, pois, na verdade, o que pode estar acontecendo é a reprodução das exigências dos outros (pais, professores, entrevistadores, etc) somadas ao nosso medo de não atingir as expectativas dos nossos possíveis leitores. Assim, este nosso “perfeccionismo” não passaria de uma manifestação da nossa ansiedade diante da “crítica”, uma crise de temor da reprovação frente às pressões “visíveis e invisíveis” que povoam o universo da produção de textos.

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